quinta-feira, 22 de abril de 2010

Mudou o chefe, e agora ?


Recentemente fiz umas contas e concluí que desde o início da minha carreira, como estagiário em 1997, até hoje, já tive 19 chefes diferentes. A média é de aproximadamente 1.5 chefes por ano! Podemos até dar um desconto porque várias vezes tive 2 chefes ao mesmo tempo, mas o exemplo é suficiente para demonstrar que mudança de chefe é regra e não exceção!

(Permitam-me abrir um parêntese sem nenhuma relação com o assunto. Eu tenho visto tanta gente de todos os níveis escrever a palavra "exceção" erradamente nos últimos anos, geralmente "excessão", que cheguei a ficar em dúvida sobre a grafia correta da dita cuja. Me tranquilizei após confirmar no dicionário que o correto é "exceção" conforme minhas suspeitas.)

Voltando ao tema da mudança de chefe .... já que é algo tão frequente no mundo dos negócios temos que estar preparados para estas transições, quer estejamos na posição de chefe ou de subordinado. Existem infinitos pontos a serem abordados sobre este assunto, mas pretendo focar apenas em uma ferramenta, que conheci no ano passado, e achei bem poderosa ainda que muito simples. Chama-se "New Manager Assimilation".

Em resumo é uma sessão de 2h, realizada assim que o novo chefe assume, onde a equipe tem a oportunidade de conhecê-lo melhor. Sei que parece bem banal, mas se executada corretamente traz alguns insights bem interessantes.

A sessão é coordenada por alguém de fora da equipe, geralmente o(a) gerente de RH, e se divide em quatro partes.

1. Abertura - O coordenador e o novo chefe explicam o processo, é importante que o líder recém-chegado reforce que está engajado nesta sessão e que espera bastante transparência de todos. Informam que durante a sessão vale a regra "What happens in Vegas, stay in Vegas", ou seja, ninguém deve comentar sobre quem falou o quê após o exercício.

2. Obter - O líder deixa a sala e o coordenador assume. Começa a conversa com a equipe com uma pergunta tranquila, "O que já sabemos sobre o novo chefe ?". Geralmente o grupo menciona informações leves e de domínio público, por exemplo: nasceu no RJ, trabalhou no concorrente no passado, gosta de jogar golfe, etc. A próxima pergunta é "O que não sabemos ?", aí já começa a aparecer uma mistura de questões leves (tem filhos ? é formado em que ?) com algumas mais provocativas (quais seus pontos fracos ? como lida com horário ? ouvi dizer que ele é muito duro com a equipe, etc). O processo vai seguindo, com todos ficando cada vez mais confortáveis em falar, e respondendo a mais 2 questões "O que gostaríamos que ele fizesse ?" e "Que preocupações temos com ele?". Para arrematar todos devem entregar um papel com uma pergunta anônima (apesar de valer a regra de "Vegas", não custa abrir mais esta chance ...)

3. Processar - a equipe faz uma pausa, e o coordenador se encontra a sós com o chefe para repassar as perguntas e discutir como abordar.

4. Transmitir - o novo líder volta para a sala e responde as perguntas da maneira mais transparente possível, aproveitando o momento para criar um diálogo com a nova equipe.

OBS: uma alternativa é fazer os passos 1 e 2 em um dia, e 3 e 4 no dia seguinte para dar mais tempo para reflexão.

De todos os meus 19 chefes só vi este processo acontecer com 2, e fiquei surpreendido com a quantidade de surpresas, positivas ou não, que surgem. E tenho certeza que para os chefes também foi muito enriquecedor porque conseguem de maneira concisa, logo no início em seu novo papel, uma visão abrangente que demoraria para se obter de outra forma. Da próxima vez que eu assumir uma nova equipe farei este exercício com certeza !

3 comentários:

  1. Muito bom Gustavo, eu ja tive 4 chefes e nunca ouvi falar dessa pratica. Achei muito bacana e utilizarei quando tiver minha própria equipe, um abraço e sucesso!

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  2. Eu tb nunca ouvi falar dessa pratica...na unidade da empresa que trabalho, dificilmente temos um chefe vindo de fora..geralmente todos ja conhecem os novos chefes.
    Uma conta interessante você fez...até hj eu tive uma média de 1 chefe por ano...nem fazia idéia disso...será q é bom!?É algum indicador?

    Abs!

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  3. Gabriel, que bom que vc gostou e que entende a importância de aplicar este tipo de exercício quando tiver seu próprio time.

    Ronaldo, eu fiz a conta somente para mostrar que a mudança de chefe é algo que faz parte do nosso dia a dia e tem que ser tratada com naturalidade. Mas pensando um pouco no significado acho que demonstra o grau de dinamismo da empresa e da pessoa. Se vc ficar 10 anos com o mesmo chefe provavelmente também estará na mesma empresa, mesma função, mesmo nível, etc Mas como sempre tem o balanço, é importante de vez em quando permanecer uns 2-3 anos na mesma função e/ou com mesmo chefe para construir algo com começo, meio e fim.

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